quinta-feira, 31 de março de 2016

Testosterona: uma alternativa para mulheres com baixa resposta ovariana

Após 43 ciclos de tentativas, idas a vários médicos, muita medicação - e pesquisa no Google, claro - você acha que já sabe praticamente tudo sobre infertilidade conjugal. Mas, nesse universo, isso é impossível. Há sempre novas informações, novos remédios, novas hipóteses e novos tratamentos surgindo... Prestes a dar início à quarta estimulação para fazer a FIV, pensei que o protocolo seria exatamente o mesmo dos três tratamentos anteriores.

Só que já começou diferente. O médico novo decidiu, nas palavras dele, que ia fazer "uma coisa bem legal". Como eu precisei adiar o início do tratamento por conta de uma viagem a trabalho, ele resolveu me receitar testosterona em gel.

Testosterona em gel: deve ser encomendado
em farmácia de manipulação
O que ele me explicou: mulheres com ovários micropolicísticos (não é o meu caso, sou o oposto disso!) produzem testosterona em excesso. Para elas, isso é ruim. Mas, para mim, pode ser bom. Como eu produzo pouquíssimos folículos, aumentar o nível de testosterona no meu corpo pode estimular o ovário a trabalhar mais e, assim, gerar mais folículos, que vão virar óvulos.

Encontrei uma explicação mais científica nesse estudo que pode ser acessado nesse link, cuja conclusão transcrevo abaixo:

"O uso de androgênios em fases que antecedem a estimulação ovariana em ciclos de fertilização in vitro parece ser ótima ferramenta de melhoria da resposta à estimulação oocitária controlada em pacientes com mais de 38 anos ou com reserva ovariana diminuída. Melhora tanto a quantidade quanto a qualidade oocitária e aumenta as taxas de gestação e de nascido vivos."

O novo médico esclareceu também que não há inúmeros casos clínicos que comprovem a eficácia do uso de testosterona para mulheres com baixa reserva ovariana. Mas cada vez mais autores estão sugerindo que aumentar moderadamente o nível de testosterona pode contribuir positivamente para que o ovário produza mais folículos e de melhor qualidade.

Ótimo, não? Só não entendo porque nenhum dos dois médicos que me acompanharam anteriormente - antenados e frequentadores assíduos de congressos internacionais - sugeriram a testosterona.

O Google me diz que o "uso de testosterona transdérmica antes do ciclo de FIV parece aumentar a taxa de gravidez em 15% e a taxa de nascimento em 11%". Poxa, é porcentagem pra caramba para quem está tentando há tanto tempo!

Enfim, essas novas informações ajudam a me dar esperança, ao mesmo tempo que sei que não posso depositar todas as fichas nelas. A testosterona em gel precisa ser encomendada em farmácia de manipulação - a textura parece mais a de um creme hidratante do que de gel - e deve ser passada à noite na parte interna da coxa. Tem um cheirinho de desodorante que me enjoa, mas logo passa. Estou revezando as pernas desde a quarta-feira, 23/3, e devo continuar usando até segunda, 4/4, quando volto à clínica.

Torço para que meu caso clínico seja de sucesso para que eu possa contribuir com a literatura e, quem sabe, ajudar mais mulheres com baixa reserva ovariana.


quarta-feira, 23 de março de 2016

Má resposta e a baixa reserva ovariana

No fim de 2013, nosso primeiro ano de tentativas, após cerca de 13 ciclos negativos, recebemos o diagnóstico de "infertilidade sem causa aparente". Para nós foi especialmente frustrante porque significava que não havia muito o que poderíamos fazer: simplesmente não havia um motivo para que não conseguíssemos engravidar.

Passamos os seis primeiros meses de 2013 tentando naturalmente, no segundo semestre dei início à medicação para controlar a minha prolactina, sempre muito alta, e, logo no início de 2014, fizemos cinco ciclos com acompanhamento de ultra seriada e medicação para induzir a ovulação (entre eles clomid, gonal e ovidrel). Como não funcionou, a ginecologista  nos encaminhou ao médico especialista em reprodução, que, conduzindo uma investigação mais aprofundada, chegou a um novo diagnóstico: o de falência ovariana precoce ou FOP, já que adoramos uma sigla no mundo das tentantes!

Na verdade, uma possível falência ovariana precoce, que pode me levar a entrar na menopausa antes da hora da maioria das mulheres. Como eu ainda menstruo, não é possível afirmar com certeza que terei uma menopausa precoce. Mas é um fato que tenho baixa reserva ovariana.

Ele chegou a essa conclusão após avaliar o resultado do meu hormônio antimulleriano (prazer, nunca tinha ouvido falar na sua existência!), considerado baixo para a minha idade. Aos 31 anos, deu 0,99 ng/mL.

Mas o que isso significa? Que meus óvulos estão sendo gastos numa velocidade maior do que a média das mulheres. E isso faz com que, mesmo usando medicação para estimular a produção dos óvulos, eu tenha o que é chamado de má resposta. Enquanto as mulheres da minha faixa etária, geralmente, produzem entre seis e oito embriões num ciclo de FIV, eu não consegui produzir mais do que dois.

A má resposta foi confirmada também pela minha produção de folículos durante os ciclos de FIV: tive cinco, quatro, um (ciclo interrompido) e dois. É muito pouco comparado à média da minha faixa etária: não raro mulheres obtêm dez, 15 ou até 20 folículos com o estímulo.

Não existe ainda um exame que meça qual é a reserva ovariana de uma mulher: ou seja, não é possível determinar quando ela deixará de produzir óvulos nem quantos óvulos ela ainda tem. O que o antimulleriano permite é indicar a existência da baixa reserva.

E se, por um lado, nos trouxe respostas, trouxe também a sensação de, a cada dia, estar perdendo tempo, desperdiçando chances e, principalmente, óvulos. Pois a última FIV foi feita há seis meses e não tem muito como saber, de lá para cá, qual tem sido a minha evolução. Resta agora torcer para bater um recorde de folículos no próximo ciclo!

terça-feira, 22 de março de 2016

Quarta FIV

De maneira geral, quando se fala em FIV, pensa-se logo no combo FIV + implantação. Ou então em FIV e subsequentes TECs, para quem consegue vários embriões congelados. Mas é que eu, como tenho baixa reserva ovariana, fiz três FIVs e somente duas transferências. Já que estamos nos preparando para a quarta FIV, resolvi recapitular os últimos ciclos - a partir dos de FIV, sem contar os anteriores com clomid.


  • 14 de Março de 2015: realizamos a primeira punção folicular. Foram aspirados cinco folículos, dos quais três eram óvulos e dois foram fertilizados. Destes dois, somente um evoluiu para embrião, que foi implantado a fresco no dia 17/03/15. Pegamos o negativo no dia 28/03/2015.
  • 11 de abril de 2015: data da segunda punção folicular. Foram aspirados quatro folículos, sendo dois óvulos. Tivemos um embrião, que foi congelado.
  • 5 de junho de 2015: data da terceira punção folicular. O intervalo foi grande pois no fim de abril iniciei o terceiro ciclo de indução, porém, após sete dias de medicação, tive somente um folículo e o ciclo foi interrompido. Precisei esperar a menstruação e por isso só em junho é que foi feita a terceira punção. Apenas dois folículos aspirados, mas, desta vez, os dois foram fertilizados e congelados, somando-se ao outro que congelamos em abril. No dia 27 de agosto de 2015, após alguns percalços, fizemos a TEC, implantando nossos três embriões. Dessa vez eram três e tínhamos muita esperança, mas o resultado negativo saiu no dia 8/9/15.
  • 4 de abril de 2016: essa é a data marcada para darmos início ao quarto ciclo de indução para fazer a punção folicular, FIV e implantação. Não acredito (muito!) nessas coisas, mas acabo de me dar conta que a quarta FIV será no dia 4/4/16 e que 4x4=16 e que espero que isso traga algum tipo de sorte.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Administrando frustrações

Quatorze dias depois, voltamos à clínica. E se já estava achando 14 dias muito, imagine 21. Pois o cisto diminuiu de 2,2 cm para 1,4 cm, o que é bastante, mas ainda pouco para dar início ao novo ciclo de estímulo. Então a médica que fez a ultra pediu que eu continuasse com o anticoncepcional (gestinol) por mais sete dias, que se completariam amanhã (sexta). Como o marido estava de folga hoje, acabamos retornando nesta quinta-feira, 20 dias após a primeira ultra.

Hoje o cisto apareceu com 0,92 cm. Com menos de 1 cm, já seria possível começar a medicação para estimular a ovulação. Não gostei muito da médica que fez a ultra hoje: além de ter dificuldade para achar meus ovários, não falou absolutamente nada e ficou fazendo comentários com uma jovem médica, residente ou aprendiz, ignorando a nossa presença na sala. Na outra clínica, esse processo era conduzido de uma forma mais adequada: o marido podia sentar ao meu lado e nós dois conseguíamos ver a tela, onde os médicos iam nos mostrando as imagens. Aqui, nenhum dos dois vê a tela e ninguém explica direito o que está sendo visto. Se eu não tivesse perguntado hoje se o cisto estava menor e se havia folículos nos ovários, a médica nada teria me dito. Mas enfim.

Ela nos encaminhou para o nosso médico, que hoje estava na clínica, e ele é simpático e sorridente, o que nos passa confiança. Explicou que o estímulo não podia ter início com o cisto grande porque este poderia secretar hormônios que impediriam o crescimento dos demais folículos. Hoje, então, já seria possível começar, já que o cisto estava com menos de 1 cm. Mas como nada pode ser simples, tenho uma viagem a trabalho agendada de 28 a 31 de março, dias em que teria que ir à clínica.

Então ele optou por manter a pílula anticoncepcional por mais 13 dias e por me prescrever testosterona em gel. Não há um consenso, mas há autores que defendem o uso de testosterona para mulheres com baixa resposta ovariana, uma vez que esse hormônio é encontrado em abundância em mulheres com ovários policísticos. Como já é sabido que minha resposta ovariana é péssima para a minha idade e como não poderia começar hoje a medicação, ele achou que valia a pena usar a testosterona até o dia 4 de abril, que é quando retornaremos para, aí sim, e se tudo tiver certo, começar mais um processo para a FIV. A expectativa é que o hormônio, usado antes do início do processo, estimule o ovário a produzir mais folículos.

A testosterona precisa ser feita em farmácia de manipulação e o gel deve ser passado na parte interna da coxa, o que achei bem curioso, mas também ótimo por não ser nem comprimido e nem injeção, já que virão muitas em breve.

Se não fosse pelo cisto, a essa altura eu já teria feito a punção e a implantação e estaria aguardando para fazer o beta. Gostaria muito, muito mesmo, de ter podido fazer o procedimento nas férias que tirei para isso: com calma, sem preocupação com trabalho, sem precisar dar desculpas e ficar preocupada com o que as pessoas estariam pensando. Mas, infelizmente, não foi possível. Mais uma frustração para administrar dentre tantas desde janeiro de 2013.