domingo, 23 de outubro de 2016

O choro é (ou deveria ser) livre

No último fim de semana fui a uma festa, numa outra cidade. Apesar de não ter nenhum real pra contar história, resolvi fazer cabelo e maquiagem com uma pessoa que iria fazer de outras convidadas no local da festa. Costumo me arrumar sozinha e sempre tenho medo de ser produzida por uma profissional que não conheço, mas como todo mundo ia fazer, decidi arriscar. No fundo eu já sabia que me arrependeria. Mas não sabia que iria me sentir tão mal.

Não gostei do cabelo, não gostei da maquiagem: ela fez duas tranças em mim e deixou metade do meu cabelo, que é cacheado, solto, e eu fiquei parecendo uma daminha de honra, mas pra contrabalançar passou um batom vermelho vermelhaço vermelhante vermelhão e colocou uns cílios postiços de 3 metros. Eu gosto de batom vermelho, mas o tom fluorescente que ela escolheu não combinou nada comigo e, quando eu pedi pra ela escurecer, só foi ficando pior. Enfim, como já estava atrasada, aceitei como estava e, chegando em casa, tirei o batom, prendi a parte solta do meu cabelo e depois tirei os cílios postiços também. Ficou menos pior. Bem menos pior.

Mas eu já estava me sentindo horrível. E não consegui segurar o choro no meio da festa, enquanto ouvi as poucas pessoas que me viram chorando dizer que era uma besteira chorar por causa de uma maquiagem. Pode ser que seja. Mas há quatro anos me sinto horrível por dentro todos os dias e simplesmente não consegui fingir que estava tudo bem quando me vi no espelho e não me reconheci e nem me achei bonita. Não ser capaz de engravidar minou minha autoestima - e acredito que possa ser assim com muitas outras mulheres que passam por isso.

Há quatro anos que eventos sociais têm se tornado pra mim um martírio. O medo constante de que alguém vai fazer uma brincadeirinha comigo sobre ter ou não filhos, a angústia de que vão me fazer a fatídica pergunta e a certeza de que o tema maternidade vai surgir mais cedo ou mais tarde numa roda de conversa me tornam cada vez mais antissocial. Não me orgulho disso, tenho tentado melhorar, mas é assim que me sinto.

Porque, na maioria das vezes, eu engulo o choro. Mas nem sempre consigo. Por trás das minhas lágrimas, que podem parecer fúteis aos olhos alheios, tem uma mulher arrasada com o coração destruído.