quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

O tempo não para, mas às vezes também não passa...

Clock002

Fiquei menstruada no último dia 22. Com isso, a previsão é de que o próximo ciclo comece no dia 18 de janeiro de 2017. Como meus ciclos não costumam variar muito, deve ser por aí mesmo, um dia antes ou depois talvez. Então já estamos começando a planejar a ida para SP. Ainda meio no escuro, pois não sabemos exatamente como será.

O médico disse que começará o preparo do endométrio assim que eu ficar menstruada em janeiro. Mas não sei se farei primeiro uma ultra aqui no Rio para checar as condições ou se já vou para SP começar tudo por lá.

Dessa vez vou tentar ficar o tempo inteiro em São Paulo para o tratamento. Ainda não sei bem como vou fazer, mas tenho umas folgas para tirar e acho que vou emendar com o feriado que tem no Rio dia 20 de janeiro.

As passagens estão baratas agora, mas não podemos demorar muito para comprá-las porque o preço sobe rápido nessa época do ano. Mas claro que dá aquele medinho de planejar tudo, comprar passagem, ver hospedagem etc. e as condições do endométrio não estarem ideais -  no ano passado tive tantos ciclos interrompidos que essa é uma questão que preciso sempre considerar. Já aprendi que em tratamentos de fertilidade não dá para planejar muita coisa. Porém precisamos de um planejamento mínimo a partir do momento que decidimos seguir o tratamento fora de nossa cidade. Ao mesmo tempo não podemos desperdiçar nenhum real caso seja preciso remanejar a viagem.

Meu endométrio nunca foi um problema. Inclusive sempre recebeu elogios por seu aspecto trilaminar e, exceto quando usava comprimidos para indução, costumava crescer de forma satisfatória, além de ter respondido bem ao Androgel quando precisei usar para acelerar o crescimento. Então, por um lado, estou confiante quanto a isso. Por outro, claro, estou com medo de ter alguma questão que me faça adiar mais uma vez o início de um tratamento.

Vou tentar ligar pra clínica hoje e ver se eles têm alguma orientação mais específica. Não sei se vou conseguir pois estão em recesso de fim de ano. Eu, por tantos milhões de motivos, quero apenas que 2016 acabe logo e que os dias voem até 18 de janeiro.

sábado, 24 de dezembro de 2016

All I want for Christmas

Tem tempo que o Natal já não tem muita graça pra mim. Bem antes de me tornar "tentante", já não vinha ligando muito pra data. Quando a gente cresce e a família é pequena, fica-se um bom tempo sem crianças e nessa época do ano a gente vê como isso faz diferença. A parte da família com pequenos mora longe e esse ano não nos reuniremos, infelizmente. Porque para mim são as crianças que dão significado a esses momentos. São a verdadeira renovação, trazem alegria e esperança.

Há cinco anos tudo que eu queria era poder dar mais uma criança para minha família. Achei que esse ano, finalmente, poderia estar grávida e dar essa notícia. Mas, mais uma vez, não rolou. Mais uma vez terei que engolir o choro. Nessas horas, a vantagem de se ter uma família pequena é que não preciso aturar pessoas com quem não tenho intimidade perguntando "quando vão ter filho/estão demorando muito/ não vão dar um netinho para seus pais?" e outras variações sobre o mesmo tema.

Mas mesmo que a presença física dessas pessoas não exista, é um tormento constante. Meu comigo mesma. Não preciso de ninguém me perguntando porque já vivo com essas questões internamente de forma permanente.

Tudo que desejo neste Natal é estar com um bebê no colo daqui a 365 dias. E desejo para todas as tentantes que consigam enfrentar os tempos festivos com força e serenidade. Que não sofram com possíveis comentários inapropriados. Que encontrem motivos para agradecer apesar de o maior desejo ainda não ter se realizado. Porque eles existem e a gente precisa reconhecê-los: um marido amoroso, uma família presente, um trabalho recompensador, a nossa saúde e dos que amamos. Desejo que esses tempos de reflexão possam trazer sabedoria para, quem sabe, tomar uma decisão diferente: inscrever-se para adoção, aceitar a ovorecepção, optar por mais uma tentativa de FIV.  Para aceitar que às vezes é necessário desviar um pouco o rumo para chegar no local pretendido. E que se for preciso se trancar no banheiro para chorar e respirar fundo ou desabar no travesseiro na volta para casa, saibam que não estão sozinhas. Estarei pensando em todas vocês. Boas festas a todas!

domingo, 18 de dezembro de 2016

Na hora do almoço

Hot Lunch

Há um tempinho, fiquei sabendo que uma colega tem dificuldades para engravidar - não sei os motivos, não sei a história, só tenho essa vaga informação. Considero vaga porque cada história de infertilidade é diferente - ela pode ter tentado 5 anos naturalmente, ter tido repetidos abortos naturais, ter feito 10 FIVs, ter feito uma IA, ter se submetido a uma ovodoação, ter retirado o ovário numa cirurgia, ter um marido vasectomizado, ter um marido com azoospermia, enfim, são inúmeras as possibilidades. E também porque soube dessa informação por uma terceira pessoa que não enfrentou problemas de infertilidade e, portanto, não faz ideia do que ela possa ter passado.

Dia desss, acabei indo almoçar com essa colega, que obviamente não faz ideia que eu tenho essa informação sobre ela, e mais outras duas pessoas. Como invariavelmente acontece quando há mulheres na faixa dos 30 anos envolvidas, o assunto girou em torno da maternidade. Como deve ser loucura chegar com um bebê em casa. Deve dar medo, né? E passou pra histórias de adoção. Porque a fulana tentou muito tempo engravidar, tipo 6 anos, e não conseguiu. A outra também tentou muito, mas não teve jeito. Acabaram adotando. Mas ainda tem aquela que adotou e, um ano depois, engravidou naturalmente. Acontece muito. É muito comum. É tão frequente.

Nessas horas você faz o que? Finge. Mente. Sorri amarelo. Faz de conta que adoção é algo que nunca passou pela sua cabeça. Que você nem imagina o que seja enfrentar problemas de infertilidade. Comenta sobre o programa de TV que abordava o tema. E fica mentalizando "vamos mudar de assunto, vamos mudar de assunto, está tão quente/frio, será que vai chover/fazer sol, já terminaram de ver a última temporada de black mirror/gilmore girls/lovesick?". Mas o tema permanece na mesa. A colega opina também. E você fica imaginando se ela está como você. Fingindo, torcendo pro assunto variar, se sentindo mal por, mais uma vez, num inocente almoço rápido de trabalho, estar sendo lembrada da sua dificuldade. E pensa em quantas mulheres não devem se sentir como eu, como nós. Silenciadas.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Tudo novo de novo

Chegou o e-mail que tanto esperávamos. A clínica nos enviou três perfis de doadoras de óvulos para escolhermos. Não sabia, mas os perfis vêm acompanhados de um questionário extenso respondido pela doadora. Nós dispensamos a foto, mas se soubesse talvez tivesse aberto mão dos questionários também. Que diferença faz se uma doadora prefere viajar para Veneza, enquanto outra tem o sonho de ir pra Disney? Se gosta mais de ver televisão do que de ler um livro? Se o tipo de filme preferido é comédia romântica e terror? O questionário vem até com um recado para os receptores - mas que diferença faz uma mensagem mais afetuosa? Você saberia o que dizer pra receptora dos seus óvulos? Eu não sei se saberia.

Achei essa sensação de escolher horrível. Será que vou sempre ficar pensando "e se tivesse optado pelo outro perfil?".

No nosso caso - e falo exclusivamente por mim e meu marido - acharíamos melhor receber somente o questionário das características físicas. Que na verdade nem importam tanto assim pra gente. Importa muito mais conseguir engravidar e gerar um filho saudável.

Então eu imprimi os três perfis, que imprimi e li e reli no metrô, com a mesma sensação de incômodo a cada vez. À noite, tive um nervous breakdown. Caí em prantos, questionei a decisão, achei que não estaria pronta. Fiquei com medo. Muito medo. De tudo.

Marido ficou triste, mas entendeu. No dia seguinte, me mandou um trecho de um blog que dizia isso:

"Na verdade, o filho idealizado, independente de ser biológico ou não, sempre será o filho irreal, como o próprio nome diz, é o filho ideal, que pertence ao mundo das idéias, e assim, nunca corresponderá ao real, de carne e osso.

O fato da criança ser fruto de ovodoação, se isso estiver bem trabalhado dentro do psiquismo dos próprios pais, em nada difere do filho biológico, afinal, o processo de filiação é puramente emocional, não se relaciona ao link genético, mas sim, à capacidade da pessoa conseguir dar àquela criança um lugar de filho.

Até mesmo os pais biológicos precisam adotar os próprios filhos (embora isso nunca seja falado)."

E eu concordo com tudo isso. De verdade, do fundo do meu coração. Ao longo do dia fui trabalhando melhor a ideia - que já vem sendo trabalhada há um tempo na verdade - e me acalmando. E decidi que ia sim seguir com essa opção.

Enviamos o perfil escolhido e, no retorno, um susto: o custo seria quase 4 vezes mais alto do que estávamos esperando. Porque se não bastassem todas as questões emocionais que envolvem esses processos (FIV, ovodoação, embriodoação etc.), ainda é preciso lidar com o lado financeiro da coisa, o que também não é nada fácil.  O susto de ver o valor foi tão grande porque, há dois meses, a clínica se enganou e nos mandou o custo de embriodoação como se fosse de ovodoação. E ficamos com esse valor na cabeça. 

Não tínhamos ideia que a ovodoação era um processo ainda mais caro que a FIV tradicional. Isso acontece porque arcamos com parte do tratamento da doadora - o que sabíamos, só não imaginávamos cifras tão altas, que realmente fugiam de nossa já totalmente esgotada capacidade financeira. Bateu um desespero, mas íamos tentar dar um jeito. Falamos com a clínica que entendíamos o equívoco, mas que isso havia "nos iludido" quanto ao real valor, que não tínhamos condições de pagar. Eles nos entenderam e concederam um desconto e, mais importante, facilitaram a forma de pagamento, permitindo parcelar em mais vezes. Para se ter ideia, nós ainda estamos pagando as FIVs de 2015 - só terminaremos em abril do ano que vem. É um orçamento familiar totalmente comprometido com esse projeto. Claro que muitas vezes bate um desespero por conta do vermelho no banco, além de uma revolta por esses tratamentos serem tão caros e não serem pagos ou reembolsados por planos de saúde nem disponíveis na rede pública. Sempre penso nas mulheres que querem e não conseguem engravidar e não têm condições financeiras.

Mas é hora de agradecer por nós sermos privilegiados e podermos dar um jeito, adiando outros planos como viagens e mudança para um apartamento maior e mais novo, para tentar, mais uma vez, realizar o nosso sonho de ter um filho. E hora de ficar piegas e reconhecer que na vida nem sempre tudo sai conforme o esperado, mas o importante é ir contornando as adversidades e encontrando meios para ser feliz.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Grupos de whatsapp: ter ou não ter, eis a questão

                  https://dribbble.com/shots/2740587-iPhoneiPhone

Eu tentei. Pelo menos duas vezes. Mas não consigo permanecer em grupos de whatsapp de tentantes/FIV. O primeiro que entrei foi por meio da site da primeira clínica, onde fiz três FIVs. Tinha bastante gente que fazia tratamento lá também e eram basicamente mulheres do RJ. Mas eram muitas mensagens por dia que não me faziam esquecer nem por um minuto que eu não conseguia/consigo engravidar. E era mais uma rede de apoio/motivação do que de troca de informações sobre os casos, o que realmente buscava. Como foi numa das minhas fases mais difíceis, acabei optando por deixar o grupo.

Quase dois anos depois, uma amiga querida virtual me sugeriu entrar novamente em um grupo. Dessa vez com meninas com mais experiência nos processos, muitas delas já tendo feito mais de uma FIV, como eu. Achei que valia a pena tentar. Mas não deu certo de novo. Eram muitas, muitas mensagens ao longo do dia - se ficasse uma hora em reunião, às vezes tinha mais de 300 quando eu voltava - e muitas conversas cruzadas, que me deixavam perdidinha. Não sabia a história de nenhuma delas e ficava tentando entender juntando os pedaços. Fiquei algumas semanas, mas acabei preferindo sair também. E voltar pro blog, onde dá pra acompanhar melhor as histórias - quando você esquece alguma parte, é só buscar no histórico.

Além disso, converso com algumas amigas blogueiras individualmente pelo whatsapp - e adoro! Pra mim tem funcionado assim. E vocês, curtem os grupos de zap?